Wizarland
e
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nquanto o
velho Wilbourne escrevia, sentado na escrivaninha de sua biblioteca, a pena
riscava aquele papel amarelo encardido. Era início do século 17, mas o velho Wilbourne não parava de pensar no moribundo Jack que
permanecia sentado na esquina do cruzamento da rua Blacke com a Chester.
O moribundo Jack estava da mesma forma com todos o conheciam. Embora
fosse um homem vigoroso de 30 anos, as pessoas que circundavam a velha capital
o consideravam como senhor já por muito vivido. Era um pobre mendigo aos olhos
de todos, que sempre aceitava calado as migalhas que Robert, o padeiro, lhe
jogava ao chão.
E o velho Wilbourne não
conseguia tirá-lo da cabeça. Não porque nunca o tivera visto. Claro que ver um
mendigo naquelas condições era algo que de início causava certo receio. Porém
assim como as pessoas se acostumam vendo porcos no chiqueiro, assim também
encaravam aquele moribundo. E o velho Wilbourne também já havia visto Jack centenas
de vezes. A rua Blacke era muito movimentada.
No entanto fora um fato isolado que fez com Wilbourne notasse aquele
homem.
Capitulo Primeiro – O Moribundo Jack
Era um dia como
qualquer outro e o Sr. Wilbourne fora comprar pão para quela manhã. O Sr.
Wilbourne era um senhor de 74 anos que já havia visto várias coisas em sua
vida. Era um homem com um conhecimento extraordinário que passava o resto de
sua vida em uma luxuosa casa com a governanta Retridy. Ficara sozinho depois
que sua esposa morrera da grande gripe, e agora desfrutava o resto da fortuna
que a venda de sua fabrica de tecelagem havia lhe proporcionado.
Naquela manhã Wilbourne decidiu ir por si a
padaria. Não aguentava mais comer das roscas que Retridy lhe trazia todo santo
dia e fora comprar algo diferente.
A padaria ficava
na Rua Chester bem próximo ao moribundo. Ao se aproximar o Sr. Wilbourne viu
aquele ser quase invisível atacar as migalhas que o senhor Robert havia lhe
dado. Não que o senhor Robert fosse uma boa pessoa, fazia aquela caridade para
pagar pelos pecados que cometia contra sua esposa nas noitadas no bar. no
entanto Jack não se importava.
O Sr. Wilbourne
comprou seu pão, ainda quente, enrolado em um pequeno saco de papel, com
cheirinho de forno, e partiu em direção á sua casa.
Mas ao passar
novamente perto de Jack, com o nariz tapado para não sentir aquele odor
insuportável, olhou atentamente para o bolso semi rasgado de sua calça que
deixava reluzir um brilho dourado. Um brilho incomum para alguns, mas que para
um homem de posses como o Sr. Wilbourne, era algo bem familiar – ouro da mais
fina categoria.
Wilbourne fora
então passar aquele dia maquinando em sua mente aquele fato.
- Como tal moribundo possuía algo de t ão grande valor? Não se tratava
de um simples mendigo, se o fosse já o teria trocado por um bocado de moedas.
Que passado escondia?
Mesmo assim decidiu anotar tudo em seu diário como
de costume e foi pegar sua antiga pena que usara tanto tempo no escritório da
fábrica.
Ficou pregado naquela escrivaninha até bem de
tardinha, e só se deu conta da hora ao chamar de Ratridy para o jantar. Visto
que o brilho dourado do sol já cobria toda a cidade.
No momento do jantar o velho Wilbourne permaneceu
calado como de costume, mesmo após as insistentes perguntas de Ratridy sobre o
que fizera todo aquele dia.
Ao findar do jantar fora novamente para a janela
próxima á sua escrivaninha que agora já apresentava um brilho prateado daquela
noite de lua cheia.
Ao se aproximar não avistou Jack sentado no
cruzamento. E só havia um lugar onde Jack poderia estar senão naquele lugar.
Com isso Wilbourne ao caminhar de uma criança pegou seu casaco sem que Ratridy
notasse e saiu porta afora em direção ao bar da cidade.
* * *
Jack fora para o bar ao começar da tarde. Sabia que
ao anoitecer sentiria frio e para se aquecer bem como para evitar as memórias
do passado precisaria de suas doses de
Rum.
Robert era quem pagava as doses para Jack. Mais uma
vez não por bondade, mas porque Jack depois de bêbado dava aqueles senhores
razões para rirem, pois contava suas histórias mirabolantes. Ele falava de como
os espíritos da natureza viviam em Wizarland e em como perdera sua última
batalha contra as bruxas do norte.
Robert não perdia a oportunidade de caçoar daquele
maldito homem que tanto fedia. E aproveitava a deixa para se embebedar com as
prostitutas que frequentavam o local.
Jack começou novamente amaldiçoando as bruxas do
norte. Gritava e fazia sinais com a mão. Desaprovava sua aliança com o rei do
Gelo e chorava ao lembrar de sua derrota.
Para todos aquela cena causava risos constantes, se
questionavam das peripécias daquele moribundo e sacudiam suas barrigas cheias
de cerveja de tanto gargalharem ao verem aquele palhaço incomum.
Porém em uma de suas andanças para lá e para cá
Jack violentamente perde o equilíbrio e cai de súbito no chão. Ao fazer isso a
peça de ouro que a tanto estava escondida cai do seu bolso e é revelada no meio
de todos aqueles mórbidos senhores de olhos esbugalhados.
Nem mesmo Jack se lembrava daquela peça. Mas agora
ao vê-la recobrou os sentido e pulou a ímpeto para defende-la. Os homens claro
não fizeram perguntas, partiram para cima de Jack.
Alguns gritavam ferozes: - Ladrão, peguem este
ladrão!; enquanto outros loucos por dinheiro loucamente rosnavam: -É meu, eu vi
primeiro!
E durante todo aquele escarcéu não se distinguia
quem era quem. Jack gritavam ao levar as pancadas, pontapés, chutes e tapas.
Mas ao mesmo tempo permanecia abraçado fortemente com aquela peça misteriosa.
Sentia fortes dores em todo o corpo mas por uma razão desconhecida não
abandonava a peça.
* * *
O velho Wilbourne chegou no bar ao cair da noite.
Visto que era velho precisava do auxílio de sua bengala, e com sua visão turva
precisada encontrar Jack em meio toda aquela escória da sociedade.
Se repreendia á medida que entrava no bar. Nem ele
mesmo sabia o que estava movendo-o a procurar aquele homem. Mas sua mente velha
e teimosa não o faria desistir de descobrir tudo que estava se passando com
aquele homem.